sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

AMOR, CIDADE, PESSOAS E SITUAÇÕES



Sempre tive uma  forma muito interessante de ver e viver a cidade onde mora; tendo nascido em  cidade rica do país, mas morando em um bairro extremo, resultou este fato em  uma grande capacidade de lidar com as diferenças étnicas, culturais e sociais.  Sempre pude lidar com todos sem maior diferenciação, e todas as caras e lugares são  por fim a cara da cidade, que se transforma a cada instante num ritmo violento,  neurótico e rebelde a leis de zoneamento, planos diretores e tantas tentativas  desesperadas de se ordenar aquilo que, sendo atento a tudo, classifico como "sobreposição de sobreposições".  
    Sempre  poético, sempre musical e sonhador, por sinal muito romântico, associei  na  adolescência o cenário das vitrines do centro em dia nublado, aos meus  devaneios, meus diversos amores platônicos, tramando deste modo um curta-metragem de mãos dadas com a namorada tão fugaz e efêmera quanto a  certeza de que daria certo; tive minha situação sentimental definida aos vinte e  três anos  e hoje casado há dezoito anos, acabei por transmutar meus sonhos numa realidade intensa de amor, trabalho  e - o  que classifico como raro privilégio - muita amizade e cumplicidade, o  que vem de uma "química" que só pode existir quando se constrói um  relacionamento, quando se entende que, este é um caminho efetivo para a  iluminação, o que é o alvo maior de todo o ser, quer ele seja consciente disso  ou não, o importante é que seja uma escolha consciente. Tenho esse objetivo  como o maior desta vida, e isso é inevitável, e ao mesmo tempo não tenho como fórmula, por assim dizer, como regra absoluta, pois acredito que na natureza  humana não existe nada simples   - tudo é diverso e complexo, mormente tendências e pontos  de vista.   Gosto, como já foi dito, de lidar com gente e nisso não tenho preferência, ou critério; lidar com gente é entender que todo indivíduo  é luz e sombra, é não ter ninguém acima das condições normais do ser humano;  tanto eu próprio como todos dão aquilo que têm, agem dentro do que pensam ser  correto, crêem naquilo que lhes conforta e os faz ser melhores. Portanto,  acredito nas pessoas sem me entregar cegamente a vínculos desnecessários que só  servem no fim para gerar discordâncias, conflitos e decepções. É a idéia do  viver e deixar viver, sem dependências, expectativas ou entregas - apenas uma  saudável troca de experiências, o que no fim é a única forma de crescimento: a  vida de relação.   Tenho uma leitura das cidades fortemente ligada às pessoas, e sinto que a maior ou menor desordem nas cidades e nas casas - até mesmo a falta de ordem - é  conseqüência diretamente proporcional ao estado de alma das pessoas, seus  valores, prioridades, enfim a exteriorização de seu interior, tanto individual  como coletivo. Isso, em vez de suscitar uma postura crítica, principalmente  hoje em dia, causa em meu espírito profunda empatia com tudo e todos uma vez  que sinto que tudo é interligado, interdependente; "Uma estrela que explode  há  milhões de anos-luz da terra, influi na vida de cada ser, cada coisa que aqui  existe" - penso. Isto quer dizer que ou todos se ocupam de mudar suas crenças e  valores, ou as coisas continuarão aí por mais tempo, e nós continuaremos a sofrer o que sofremos e a lamentar como lamentamos; nada é permanente, mas quanto tempo isso dura, depende de cada um de nós. 

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