sexta-feira, 19 de junho de 2020


AUTO DA PANDEMIA

Pus as roupas no varal,
Com elas minhas urgências;
Éramos assim lá no quintal,
Roupas, eu, árvores e desurgências;

Quarando penduradas sob o sol outonal,
Despedindo da semana última dessa estação;
Outras haverão de vir na dança anual,
Mas nenhuma como esta nesta breve encarnação;

Pássaros gorgeiam na piracanta majestosa,
Sombras e côdeas de sol rumo ao oeste se angulam;
Sem medo da noite que virá após um véu de rosa,
Que o ocaso mais acaso as pressas anulam;

Uma sexta-feira de cestas da feira frondosa
Uma noite de prosa do dia em confino;
Nos braços soturnos da penumbra amorosa,
Sou mero turista no expresso destino.