sexta-feira, 19 de junho de 2020


AUTO DA PANDEMIA

Pus as roupas no varal,
Com elas minhas urgências;
Éramos assim lá no quintal,
Roupas, eu, árvores e desurgências;

Quarando penduradas sob o sol outonal,
Despedindo da semana última dessa estação;
Outras haverão de vir na dança anual,
Mas nenhuma como esta nesta breve encarnação;

Pássaros gorgeiam na piracanta majestosa,
Sombras e côdeas de sol rumo ao oeste se angulam;
Sem medo da noite que virá após um véu de rosa,
Que o ocaso mais acaso as pressas anulam;

Uma sexta-feira de cestas da feira frondosa
Uma noite de prosa do dia em confino;
Nos braços soturnos da penumbra amorosa,
Sou mero turista no expresso destino.





quinta-feira, 16 de abril de 2020

CÁLIDO CULTO

Amo a deusa que humilde ostenta,
Em vulto singelo o cálido sol;
Ora cigana, odalisca ou serena,
Gira na luz, o mundo girassol.

Dança e agita meu espírito fosco,
Ama e gravita em meu mundo dantesco;
Quero teus saltos e giros num enrosco,
Em passos e compassos ao som de um
                                                         [flamenco.

Luz verdadeira que de mim tem a posse, 
Me fita e toca e o tempo estanca;
Sem medo de nenhum medo que o amor                                                                         [distorce,
Me faz sua chave que a porta destranca.